POEMAS I

MOÇAMBIQUE 
Poema de Rosa Elisa Pinheiro -Lourenço Marques
 por especial deferência da autora, nesta semana Mundial da Poesia

Naquela areia fina e branca
naquela água morna e cristalina
Na Ilha do paraíso
A Deusa do Amor, dormia...
Sonhava sonhos
Duma paixão ardente!!
Sonhava os sonhos
Dos nossos corações trementes
Trementes de tanta saudade
Moçambique, terra amada!
Terra que foi nosso berço
Terra linda, abençoada

Nas terras de Moçambique
Nossos sonhos, nossa amizade
Ficaram nela gravados
Para toda a eternidade!

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O MUNDO DOS MEUS SONHOS 
Eu quero
que o chão da minha rua seja pintado de lilás,
          Que as árvores frondosas  nos passeios 
          espalhem flores de Jacarandás
Eu quero,  que as telhas da minha casa,
    sejam de variegadas cores, que combinem no todo,
     com a rua e as flores
 Eu quero ser feliz e que toda a gente o seja também,
     Que não haja menino a faltar-lhe  o amor de Mãe,  nem de Pai, nem de ninguém. 
 Eu quero,  que os passarinhos venham
 comer na minha varanda aberta,
Quero de manhã, com o seu chilrear ser desperta,
seus filhotes saiam do ninho feito no meu beiral, e venham esvoaçando para o meu quintal.
Eu quero,  que não haja guerra no mundo,
que toda a gente tenha o necessário sustento,
que não haja orfãos, nem gente  em     sofrimento,
Eu quero que a agua não seja esbanjada,
     cada vez há menos no Mundo,  tem de ser poupada
 Eu quero, viver rodeada de quem amo,
     mas se a vida nos separar
     que nossos corações estejam em sintonia    de amar
 Eu quero que o Mundo, seja assim de verdade, que este meu sonho,
          se transforme em realidade

Celeste de Almeida Amaral Castanheira Cortez de Campos Cortez Silvestre (Celeste Cortez)
- madrugada de 15-06-2003 -       Do livro "L. de E."
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Poema aos homens constipados - de  António Lobo Antunes 
Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer
António Lobo Antunes - (Sátira aos HOMENS quando estão com gripe)
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POEMA – A NOITE DO MEU BEM

(Dolores Duran – cantora e compositora - (Rio de Janeiro 07-06-1930-23-10-1959)
Que se tornou letra da canção famosa do mesmo nome

Dolores Duran, de seu verdadeiro nome Adiléia Silva da Rocha nasceu num bairro pobre do Rio de Janeiro.
Com pouco mais de 10 anos, obteve o primeiro lugar no programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso na Rádio Tupi.
Dois anos depois morre-lhe o pai e ela passa a trabalhar como atriz em “boates” (clube noturnos, cariocas), e depois como atriz de teatro e de rádio.
Aoos 16 anos, vem a adotar o nome artístico de DOLORES DURAN, nome espanhol, considerado fino para a época, Em 1952 com 22 anos, gravou o primeiro disco e começou a ficar famosa com suas interpretações de "Canção da Volta" (Antonio Maria/ I. Neto) e "Bom É Querer Bem" (Fernando Lobo).
A sua primeira composição, em parceria com Tom Jobim, (este veio a falecer em 1994 em Nova Iorque), foi "Se É por Falta de Adeus", de 1955, gravada por Doris Monteiro. A parceira com Tom JOBIM, musico e compositor, deu outros clássicos "Por Causa de Você" e "Estrada do Sol".
Outros sucessos compostos por Dolores foram "Fim de Caso" (também em 1959), "Solidão", "Castigo";
Parceiras com Ribamar: "Pela Rua", "Ternura Antiga" e "Idéias Erradas".
Fez em 1958 com outros artistas, uma excursão pela União Soviética. Separou-se do grupo e passou uma temporada a cantar em Paris.
De regresso ao Brasil em 1959, compôs e gravou, pouco antes de morrer, o seu maior sucesso, "A Noite do Meu Bem". Segundo uma amiga da cantora, Marisa Gata Mansa, Dolores fez um rascunho da letra em casa e durante alguns dias, fosse na rua ou na boate, parava pensativa para modificar e acrescentar os versos.
Morreu aos 29 anos de paragem cardíaca, provavelmente de overdose de barbitúricos, depois de uma apresentação na boate Little Club.
Com o falecimento de Dolores, mais ou menos dois meses depois, em Dezembro de 1959, foi o disco de 78rpm comercializado, juntamente com a sua canção “Fim de Caso” também um sucesso. A notícia da morte da cantora era embalada por estas e outras canções divulgadas postumamente.
Depois da sua morte, a sua fama cresceu muito, e vários artistas como Lúcio Alves e Nana Caymmi consagraram discos à sua obra. Em 1999/2000 a peça teatral "Dolores", que conta a história da sua vida, foi apresentada com enorme êxito em grandes cidades brasileiras.
Em 1960 - Cantada por Maria Bethânia, Lúcio Alves; Elza Laranjeira; Marisa Gata Mansa;;
Em 1961 – Gravada por Maysa
Em 1968 - gravada por Elis Regina
Em 1970 – por Tito Madi . E pelos anos fora, continuou a ser gravada por outros artistas.
Dados recolhidos da sua biografia na Wikipédia.

É estilo samba-canção. Na letra, há um eu-lírico esperando ansiosamente o seu amor, para uma noite romântica, bela e apaixonada. Durante a canção, sentimentos puros são cantados, mas no fim a personagem mostra-se sem esperança.

A Noite do Meu Bem" (letra de Dolores Duran- Música de Carlos lyra, ainda vivo).

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
quero a primeira estrela que vier
para enfeitar a noite do meu bem

Hoje eu quero paz de criança dormindo
quero o abandono de flores se abrindo
para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de um barco voltando
quero ternura de mãos se encontrando
para enfeitar a noite do meu bem

Hoje eu quero o amor, o amor mais profundo
eu quero toda beleza do mundo
para enfeitar a noite do meu bem

Mas como esse bem demorou a chegar
eu já nem sei se terei no olhar
toda ternura que eu quero lhe dar




POETA: NATHAN DE CASTRO (contemporâneo)

POETA - ANTÓNIO GEDEÃO - 1906-1997 (faleceu no dia 19-02-1997)
António Gedeão (1906-1997)
Nome completo: Rómulo Vasco da Gama de Carvalho. Achei nteressante que este grande homem tivesse no seu nome "Vasco da Gama" lembrando o grande navegador português. No entanto, Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, usou como poeta o nome de ANTÓNIO GEDEÃO.

LÁGRIMA DE PRETA :
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.


Nasceu em Lisboa em 14 de Novembro de 1906. Tinha de ser um bom poeta, já que aos 5 anos escreveu os seus primeiros poemas!  Mas enveredou por outra carreira depois dos seus estudos da Faculdade. Foi durante 40 anos: professor e pedagogo. Exigente e comunicador por excelência, para si ensinar era uma paixão e uma dedicação, pelo que se dedicou ao ensino e até elaborou compêndios escolares, que inovaram pelo grafismo e pela forma de abordar matérias tão complexas quanto a química e a física . A partir de 1952 dedicou-se à difusão cientifica através da coleção "Ciência para gente Nova". "Física para o Povo" que acompanhou até aos anos 70. 
Apesar da intensa actividade científica, Rómulo de Carvalho nunca esqueceu a arte das palavras e continuou sempre a escrever poesia. Porém, não a considerando de qualidade e pensando que nunca seria útil a ninguém, não a publicou, preferiu destruí-la. Em 1956, através de um jornal soube de um concurso de poesia. Participou, ganhou. Publicou aos 50 anos o primeiro livro de poemas "Movimento Perpétuo" com o pseudónimo António Gedeão. Continuou depois a publicar poesia e  uns anos depois, teatro, ensaio e ficção.
Nos seus poemas há uma simbiose perfeita entre a ciência e a poesia, entre o sonho e a vida, entre a esperança e a lucidez.
Quando completou 90 anos de idade, foi alvo de uma homenagem a nível nacional, tendo sido reconhecido publicamente por personalidades da política, da ciência, das letras e da música, como o grande homem que foi, o professor, investigador, pedagogo e historiador da ciência, bem como o poeta. 
Faleceu em 1997.


Obra Literária: Poesia: "Movimento Perpétuo", 1956; "Teatro do Mundo", 1958; "Declaração de Amor", 1959; "Máquina de Fogo", 1961; "Poesias Completas", 1964; "Linhas de Força", 1967; "Soneto", 1980; "Poema para Galileu", 1982; "Poemas Póstumos",1984 (ainda em vida); "Poemas dos textos", 1985; "Novos Poemas Póstumos",(ainda em vida) 1990.
Publicou fição: Em 1973: A poltrona e outras novelas. Escreveu peças de teatro.
António Gedeão, ou seja Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, faleceu em 1997, com 91 anos de idade.
Os seus poemas mais famosos foram musicados, são e serão cantados por muitos anos, tal a beleza dos seus dizeres.

PEDRA FILOSOFAL: 

Eles não sabem que o sonho

é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos

como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam
como estas árvores que gritam
em bebedeiras de azul
eles não sabem que sonho
é vinho, é espuma, é fermento
bichinho alacre e sedento
de focinho pontiagudo
que fuça através de tudo
no perpétuo movimento



Eles não sabem que o sonho
é tela é cor é pincel
base, fuste ou capitel
arco em ogiva, vitral
Pináculo de catedral
contraponto, sinfonia
máscara grega, magia
que é retorta de alquimista


mapa do mundo distante
Rosa dos Ventos Infante
caravela quinhentista
que é cabo da Boa-Esperança
Ouro, canela, marfim
florete de espadachim
bastidor, passo de dança
Columbina e Arlequim
passarola voadora
pára-raios, locomotiva
barco de proa festiva
alto-forno, geradora
cisão do átomo, radar
ultra-som, televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar


Eles não sabem nem sonham
que o sonho comanda a vida
e que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida ...

Pedra filosofal, outro dos seus poemas musicados.
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Rosa , foto de Tó Cortez, tirada no jardim da Talita,
Carregal do Sal-Alvarelhos em 22-10-2011




A autora do blogue LETRAS À SOLTA http://celestecortez.blogspot.com/  dedica este poema do grande autor português João de Deus (autor da cartilha maternal), a todas e a todos os aniversariantes que fazem anos às 5ªs.feiras . Com desejos de um aniversário "superfeliz"***






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JOÃO DE DEUS

Com que então caiu na asneira
De fazer na quinta feira 
vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse...
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!


Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado...
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,


Que faz o mesmo? Coitado!
Não faça tal: porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa: que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.


Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los queira ou não queira!


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O samba-canção A NOITE DE MEU BEM,
de:  DALVA DE OLIVEIRA (1960);

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
quero a primeira estrela que vier
para enfeitar a noite do meu bem


Hoje eu quero paz de criança dormindo
quero o abandono de flores se abrindo
para enfeitar a noite do meu bem


Quero a alegria de um barco voltando
quero ternura de mãos se encontrando
para enfeitar a noite do meu bem


Mas como esse bem demorou a chegar
eu já nem sei se terei no olhar
toda ternura que eu quero lhe dar 


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ANTÓNIO GEDEÃO
 
  POEMAS DE ANTÓNIO GEDEÃO (Rómulo de Carvalho)
 
O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto é matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.




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JOÃO VILARETT

João Villaret foi um grande actor e declamador. Enchia salas de espectáculos, declamando poesia e falando de poetas sem nunca olhar para um papel.
Morreu no dia 21 de Janeiro, há 50 anos.
Alguém se lembrou de criar um site dedicado a ele.


- Adivinha
- Balada da neve
- Fado falado
- Liberdade
- O menino de sua mãe
... e o incontornável... Cântico negro


Consta que após a leitura deste último poema, no Teatro de S. Luís,
recebeu uma ovação ininterrupta de perto de 30 minutos, que constitui
ainda hoje um record nacional em qualquer tipo de espectáculo.

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HÁ SEMPRE UM VAPOR ACOSTADO AO CAIS
Livro de poemas de Joaquim Chito Rodrigues

Recebi através de um amigo do facebook - a quem já agradeci - o livro de poemas do General Joaquim Chito Rodrigues, prefaciado pela escritora Inês Pedrosa. 

Não resisto à tentação de deixar para vós este prefácio tão elucidativo da alma de poeta de um general.

"Se, como dizia Teixeira de Pascoaes, "ser poeta é animar as palavras", Joaquim Chito Rodrigues é, profundamente, um poeta. Os seus versos não temem a pele do amor concreto, a saudade viva dos amigos que já não vivem, o sabor lento de cada ensinamento, duro ou doce, do tempo que passa.  É por aí que começa essa perigosíssima actividade de descer às grutas mais escuras da alma para lhe sangrar fantasmas, segredos, cores e cambiantes - é essa a força da sua poesia. As suas palavras luminosas, de uma simplicidade pensada, revelam o universal incêndio dos sentimentos no particular sentido de cada coração." Inês Pedrosa". 

Pegando na palavra deixada por Inês Pedrosa, transcrevo um poema do general Joaquim Chito Rodrigues, que demonstra bem a saudade viva dos amigos que já não vivem:

HERÓIS
Não. Não navegam no sofrimento
Os que então cumpriram seu dever
de cabeça erguida, sem lamento
São da Pátria Heróis sem o saber

Vivem!
Vivem mesmo os que morreram!
Todos!
Todos os que juntos sofreram
Vivem!
Vivem anónimos e altivos
Entre aqueles que os esqueceram!

Hoje, grandes homens ou mendigos
São no Portugal atlântico e europeu
Heróis Pátria mesmo desconhecidos
Heróis com nome que guerra não levou!

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Malangatana (homenagem no 1º. aniversário da sua morte)


Pensar alto
Sim
às marrabentas
às danças rituais
que nas madrugadas
criam o frenesi
quando os tambores e as flautas entram a fanfarrar
fanfarrando até o vermelho da madrugada fazer o solo sangrar
em contraste com o verdurar das canções dos pássaros
sobre o já verduzido manto das mangueiras
dos cajueiros prenhes
para em Dezembro seus rebentos
dançarem como mulheres sensualíssimas
em cada ramo do cajual da minha terra
mas, sim ao orgasmo
das mafurreiras
repletas de chiricos
das rolas ciosas pela simbiose que só a natureza sabe oferecer


mas sim
ao som estridente do kulunguana
das donzelas no zig-zague dos ritos
quando as gazelas tão belas
não suportam mais quarenta graus à sombra dos cajueiros em flor
enquanto as oleiras da aldeia, desta grande aldeia Moçambique
amassam o barro dos rios
para o pote feito ser o depositário
de todo o íntimo desse Povo que se não cala disputando
ecoosamente com os tambores do meu ontem antigo.

Malangatana
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FELIZ ANO NOVO 2012
Por: Celeste Cortez - do livro "L. de E."

Vem Novo Ano
trazer-nos a Paz
E também montanhas de amor
Para distribuir pelas crianças
Que não têm pai, mãe ou família,
Nem recebem beijos e abraços com calor

Vem Novo Ano
trazer amigos e alegria
A quem vive na solidão,
Para os doentes alívio para as dores
E um verdadeiro lar confortável
Para quem não tem comida, não tem pão

Vem Novo Ano
trazer abraços para os velhinhos
Juntando-lhe o calor do amor humano
Distribui a esperança pelos desesperados
E empregos para os que desejam trabalhar
Para uma vida digna poderem iniciar/continuar

Vem Novo Ano
trazer a realização dos bons sonhos,
àqueles que se esforçam para os realizar,
Vem, com toda a força das promessas
Dizer que não é utopia nem sonho
A guerra para sempre terminar

Vem Novo Ano
leva a notícia aos soldados
Que as armas foram substituídas
Pela ternura dos beijos das namoradas,
Pelos abraços da família, ou para outros
pelos xi-coração dos filhinhos amados.

Vem NOVO ANO . FELIZ ANO NOVO.
Celeste Cortez, 31-12-2008 - do livro L. de E.

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SENHOR DEUS

                        Por.Celeste Cortez - do livro L. de E.

Senhor Deus
quis fazer um poema para Ti
para Te louvor
Mas não consegui
Nem sequer começar


Tudo tentei
Consumi todas as palavras
Gastei todas as energias
Apliquei todos os meus conhecimentos
Ri, chorei,
Enraiveci,
tive pesadelos,
Sonhei,
gritei palavras ao vento,
Mas não consegui
Fazer um poema para Ti


Pedi a Tua ajuda, Senhor
O meu pranto não te comoveu
Eu que sempre Te amei!
Afinal Senhor, não sou poeta
O que sou, não sei.


Celeste Cortez, 07-09-2010


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POEMA DE NATAL,Vinícius de Moraes

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Vinícius de Moraes

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Natal Divino

Natal divino ao rés-do-chão humano,
Sem um anjo a cantar a cada ouvido.
Encolhido
À lareira,
Ao que pergunto
Respondo
Com as achas que vou pondo
Na fogueira.


                         O mito apenas velado
                                      Como um cadáver
                                      Familiar…
                                      E neve, neve, a caiar
                                      De triste melancolia
                                      Os caminhos onde um dia
                                      Vi os Magos galopar…
de: Miguel Torga
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A todos um bom Natal
A todos um bom Natal
A todos um bom Natal
Para todos vós
A todos um bom Natal
para todos nós. (popular)

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 FERNANDO PESSOA

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português.
É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua portuguesa ao mundo".[1]
Por ter crescido na África do Sul, para onde foi aos sete anos em virtude do casamento de sua mãe, Pessoa aprendeu a língua inglesa. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa dedicou-se também a traduções desse idioma.
Ao longo da vida trabalhou em várias firmas como correspondente comercial. Foi também empresário, editor, crítico literário, activista político, tradutor, jornalista, inventor, publicitário e publicista, ao mesmo tempo que produzia a sua obra literária. Como poeta, desdobrou-se em múltiplas personalidades conhecidas como heterónimos, objecto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. Centro irradiador da heteronímia, auto-denominou-se um "drama em gente".
Fernando Pessoa morreu de cirrose hepática aos 47 anos, na cidade onde nasceu. Sua última frase foi escrita em Inglês: "I know not what tomorrow will bring… " ("Não sei o que o amanhã trará").

- 1888: Nasce Fernando Antônio Nogueira Pessoa, em Lisboa.
- 1893: Perde o pai.
- 1895: A mãe casa-se com o comandante João Miguel Rosa. Partem para Durban, África do Sul.
- 1904: Recebe o Prêmio Queen Memorial Victoria, pelo ensaio apresentado no exame de admissão à Universidade do Cabo da Boa Esperança (Cape Town) 
- 1905: Regressa sozinho a Lisboa.
- 1912: Estreia na Revista Águia.
- 1915: Funda, com alguns amigos, a revista Orpheu.
- 1918/1921: Publicação dos English Poems.
- 1925: Morre-lhe a mãe. 
- 1934: Publica Mensagem.
- 1935: Morre na sua terra, Lisboa, de complicações hepáticas. 

Em Portugal, com o livro "Mensagem", publicado em1934, único livro em português que publicou em vida, concorreu ao Prémio Antero de Quental, do Secretariado de Propaganda Nacional. Por ser a obra muito pequena, segundo a justificativa alegada na ocasião, ganhou o segundo lugar. O livro é um conjunto de poemas sobre os mitos portugueses em que, a par de alta emotividade, se manifesta profunda reflexão. Pessoas e estilos. Pessoa não apenas dominou como atualizou e desenvolveu todas as técnicas e vertentes da expressão poética disponíveis em Portugal no começo do século XX.



MOSTRENGO, simboliza o medo do desconhecido – aquilo que muitos portugueses sentem nesta hora. Mas no poema, os navegadores portugueses tiveram de vencer o medo, os dragões do mar, a fúria do seu rei e senhor D. João II. Nós portugueses, na hora presente, também temos de vencer o temor, enfrentar esses dragões que não estão no mar. MAS VAMOS VENCER.



O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»


«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»


Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»


Fernando Pessoa, Mensagem, 1934


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Rui Knopfli

MANGAS VERDES COM SAL

Mangas verdes com sal
sabor longínquo, sabor acre
da infância a canivete repartida
no largo semicírculo da amizade.
Sabor lento, alegria reconstituída
no instante desprevenido,
na maré-baixa,
no minuto da suprema humilhação.


Sabor insinuante que retorna devagar
ao palato amargo,
à boca ardida,
à crista do tempo,
ao meio da vida.



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FLORBELA ESPANCA

Nasceu em 08-12-1894 e faleceu a 08-12-1930 , (trinta e seis anos de idade).
A sua vida foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade[2] e panteísmo.

Ser Poeta (este poema foi musicado por João Gil)
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca
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Be Strong and Take Courage
de :  Don Moen  (cantor)

Be strong and take courage
Do not fear or be dismayed
For the Lord will go before you
And His light will show the way


 Be strong and take courage
Do not fear or be dismayed
           For the one who lives within you
Will be strong in you today

Why don' you give him all of your fears
Why don't you let him wipe all of your tears
He knows, He's been through pain before
And He knows all that you've been looking for

                                So, be strong and take courage
                                Do not fear or be dismayed
                                For the Lord will go before you
                                And His light will show the way


Be strong and take courage
Do not fear or be dismayed
          For the one who lives within you
Will be strong in you today

Nothing can take you out of his hand
Nothing can face you can't command
I know that you will always be
In His love, in His power you will be free!!

                                               So, be strong and take courage
                                                Do not fear or be dismayed
                                                For the Lord will go before you
                                                And His light will show the way

Be Strong and take courage
Do not fear or be dismayed
Will be strong
be strong, be strong, be strong
be strong, be strong, be strong  or be dismayed
ªªªªªªªª------------------------                                     ---

O cemitério da madrugada
de Vinicius de Moraes

Às cinco da manhã a angústia se veste de branco
E fica como louca, sentada, espiando o mar...
É a hora em que se acende o fogo-fátuo da madrugada
Sobre os mármores frios, frios e frios do cemitério
E em que, embaladas pela harpa cariciosa das pescarias
Dormem todas as crianças do mundo.

Às cinco da manhã a angústia se veste de branco
Tudo repousa... e sem treva, morrem as últimas sombras...
É a hora em que, libertados do horror da noite escura
Acordam os grandes anjos da guarda dos jazigos
E os mais serenos cristos se desenlaçam dos madeiros
Para lavar o rosto pálido na névoa.

Às cinco da manhã... – tão tarde soube – não fora ainda uma visão
Não fora ainda o medo da morte em minha carne!
Viera de longe... de corpo lívido de amante
Do mistério fúnebre de um êxtase esquecido
Tinha-me perdido na cerração, tinha-me talvez perdido
Na escuta de asas invisíveis em torno...

Mas ah, ela veio até mim, a pálida cidade dos poemas
Eu a vi assim gelada e hirta, na neblina!
Oh, não eras tu, mulher sonâmbula, tu que eu deixei
Banhada do orvalho estéril da minha agonia
Teus seios eram túmulos também, teu ventre era uma urna fria
Mas não havia paz em ti!

Lá tudo é sereno... Lá toda a tristeza se cobre de linho
Lá tudo é manso, manso como um corpo morto de mãe prematura
Lá brincam os serafins e as flores, bimbalham os sinos
Em melodias tão alvas que nem se ouvem...
Lá gozam miríades de vermes, que às brisas matutinas
Voam em povos de borboletas multicolores...

Escuto-me falar sem receio; esqueço o amanhã distante
O vento traz perfumes inconfessáveis dos pinheiros...
Um dia morrerão todos, morrerão as amadas
E eu ficarei sozinho, para a hora dos cânticos exangues
Hei de colar meu ouvido impaciente às tumbas amigas
E ouvir meu coração batendo
Tu trazes alegria à vida, ó Morte, deusa humílima!

A cada gesto meu riscas uma sombra errante na terra
Sobre o teu corpo em túnica, vi a farândola das rosas e dos lírios
E a procissão solene das virgens e das madalenas
Em tuas maminhas púberes vi mamarem ratos brancos
Que brotavam como flores dos cadáveres contentes.

Que pudor te toma agora, poeta, lírico ardente
Que desespero em ti diz da irrealidade das manhãs?
A Morte vive em teu ser... – não, não é uma visão de bruma
Não é o despertar angustiado após o martírio do amor
É a Poesia... – e tu, homem simples; és um fanático arquiteto
Ergues a beleza da morte em ti!

Oh, cemitério da madrugada, por que és tão alegre
Por que não gemem ciprestes nos teus túmulos?
Por que te perfumas tanto em teus jasmins
E tão docemente cantas em teus pássaros?

És tu que me chamas, ou sou eu que vou a ti
Criança, brincar também pelos teus parques?
Por ti, fui triste; hoje, sou alegre por ti, ó morte amiga
Do teu espectro familiar vi se erguer a única estrela do céu
Meu silêncio é o teu silêncio – ele não traz angústia
É assim como a ave perdida no meio do mar...
Serenidade, leva-me! guarda-me no seio de uma madrugada eterna!

in Novos Poemas in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "A saudade do cotidiano"

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Vinicius de Moraes, poeta brasileiro, escreve Hiroxima com X, adaptando para a língua portuguesa o nome directo japonês. Vindo da língua inglesa seria Hiroshima. Mas ambas as grafias são aceites na língua por via erudita ou por via popular. No poema acima, Vinicius fala-nos do horror da guerra, da maldita guerra. Invoca a bomba atómica que pôs em risco a sobrevivência humana.

Se a escrita é feita para reflecção, devemos refletir contra as atrocidades da guerra, de todas as guerras. Porque todas as guerras são más. Na guerra não há bons nem maus. As razões por que começam são discutíveis... ou nem tanto. Mas são más, horrendas, sangrentas.

A rosa de Hiroxima - Vinicius de Morais (Brasil)

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
Vinicius de Moraes.

Quem não soubesse que poesia é algo que não tem comparação, serve para ler, cantar e até dançar, não acreditaria que esta poesia de Vinicius de Moraes, depois de musicada, deu "Garota de Ipanema".

Garota de Ipanema

Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça
É ela menina que vem e que passa
Num doce balanço, caminho do mar
Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha

Ah, se ela soubesse que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo por causa do amor
Vinicius de Moraes.
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LIBERDADE – SOFIA DE MELO BREYNER ANDRESEN


Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Na poesia portuguesa e europeia, Sophia é, por certo, um dos poetas que mais perto está da pulsação inicial e mágica da palavra. E por isso a sua poesia, como toda a verdadeira e grande poesia, pode ser dita, cantada e até dançada.
O que disse de Sophia, o poeta Manuel Alegre (na apresentação de Musa, 12/94)

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MUANA (homenagem às macaiais de Moçambique:
(crianças que tomavam conta de criancinhas) de Moçambique,
Poema de Celeste Cortez

Muana,
pretinha,
de cabelo carapinha,
o menino branco vais embalar
com ele brincando,
praticando de mamã,
teu amor vais dar

Muana
de olhinhos risonhos,
de bata e avental
levando pela mão,
menino loirinho,
para passear

Cuidado muana:
o menino não se pode sujar

Muana
que cresces sem juventude passar
o corpo ondulas ao vento
pensando na aldeia
num batuque ao luar,
histórias inventas para ao menino contar:

Vês, menino,
a lua, seus olhos olhando pr’a nós?
se tu fazes maldades, ela chora,
e as lágrimas caem em cima de nós

O menino esfrega apressado,
as mãos no seu fatinho,
que se quer imaculado

Muana
limpa de repente,
não vá nódoa deixar para alguém notar
por que muana quer ser a melhor das mães
e menino branco continuar a embalar e a amar

Muana
que cresceste sem juventude passar,
o menino branco embalaste
praticando de mamã
teu amor foste dar
o corpo ondulas ao vento
sem pensar em batuques
nem em noites de luar
pensando na aldeia
nos filhos que hás-de criar.

1º.Prémio de Poesia 2010 – da Actis - Universidade 
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Cristo Rei de Dili-Timor   
POR TIMOR, COM AMOR
do livro de poesia  "L. de E." de Celeste Cortez
escrito antes da liberação de Timor, após o massacre de Santa Cruz

Já foi tudo dito, falado, escrito,
àcerca de ti Timor
velas arderam, marchas silenciosas,
vestidos de branco, minutos de silêncio
para te demonstrar amor



                                                 Valeu a pena
                                                 não calar as palavras
                                                 saídas dos nossos corações                                                          
correram mundo,
moveram montanhas
as nossas sentidas emoções

Foram sinceras, sofridas
as palavras de amor
saídas do coração deste povo irmão
que também foi pecador.

                          Pareceu-me nada mais haver 
                         para dizer, Timor, acerca de ti,
                         mas não podia calar esta razão:
                                                                                                          eu também sofro por ti

                                                                                Sofri preocupada
                                                                                O que mais fazer por Timor?
                                                                                Feliz verifiquei que por aqui
                                                                                não acabou a solidariedade e o amor:

                           Ambulâncias seguiram,
                           aviões subiram,
                           comida desceu ao chão
                           para ajudar a alimentar teu povo, nosso irmão.

Em tempos
comparei tuas gentes,
- vitimas inocentes -
a pássaros de asas cortadas
sem puderem mais voar.
Hoje, com esperança,
vejo que as asas
se estão curando
e tu vais poder continuar a lutar

Luta para uma vida melhor:
Os velhos bem alimentados
Terão mais vigor;
as crianças crescerão saudáveis
indo à escola p’ra aprender
      
                                                          que neste mundo ingrato                                                           é preciso saber lutar
                                                dignamente para viver

Admiro o teu povo sofredor
estou certa porém,
que não morreram em vão
nas montanhas de Timor:
morreram sem razão
baleados, assassinados,
queimados,
por te terem tanto amor

                                                                 Conta comigo,
                                                                 conta connosco
                                                                 Até sempre irmão Timor.

Celeste Almeida de Campos Cortez Silvestre
2/10/1999 - publicado no jornal "Página Beirã",1999

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A POESIA DO CASAMENTO

As fotos são do nosso casamento. Quando estavamos a assinar.
Se repararem, o Tó tem a aliança na mão direita. Um dia conto. Foi a primeira (e espero que seja a ultima) vez que casei, por isso não tinha prática em pôr alianças. Não acham? Onde está o mal? Mas não queiram ouvir os comentários que ouvi na Igrejinha de Vila Pery. Não, não posso contar, nem eu percebi, como poderei transmitir? Ah, é verdade, agora já sei o que queriam dizer. Tanta ingenuidade.

O CASAMENTO
Recebi em princípios de Julho, um convite para um casamento. Veio da América. De um sobrinho que já lá nasceu - que fala um bom português e isso muito me alegra e tenho de agradecer à minha linda e querida cunhada Lourdes e ao meu querido irmão Nelson -
Senti-me feliz por, nesta data especial, se lembrarem dos tios.

Era para ter ido ao casamento, que se realizou hoje, dia 28 de Agosto, sábado. Mas olhando agora para o relógio, reparo que já são 2 da madrugada do dia 29. Não importa. O que quero continuar a dizer é que, era para ter ido. Mas... não fui.
Espero que minha cunhada fique boa. Então irei à América, vê-la, estar com ela. Já não nos vemos desde 2008. Tenho a certeza que vai ficar boa, apesar de ter, durante os ultimos 12 anos, sido atacada por três monstros odiosos, que foi combatendo, mas, com o último está a travar uma batalha muito dura. Eu sei que ela vai ficar boa. Todos sabemos que ela vai ficar boa. E então, ela virá a Portugal, como o fez até 2008, ano sim ano não. Estarei com ela, e daremos os nossos abraços bem apertados, como sempre foi usual entre nós, desde que, um dia, saímos de Moçambique já lá vão muitos anos e nos reencontrámos pela primeira vez: ela vinda da América, eu da África do Sul.
Num encontro programado por meu irmão, o destino foi S.Miguel-Açores. Surpresa para minha cunhada! E surpreendam-se ou não tanto: nos 4 dias que estivemos juntas, sentadas na parte detrás do carro que meu irmão alugou, ficávamos de mãos dadas, enquanto os nossos homens (maridos), à frente iam desvendando aqueles lugares naturalmente maravilhosos. Acreditem! As saudades, não nos viamos há tantos anos. Saudades do nosso tempo da Beira, quando nos visitavamos tantas vezes. Quando vivemos ao lado uma da outra. 
Mas não é disso que vos quero falar. Vou apresentar-vos:
 a parte escrita do convite de casamento de seu filho e sua noiva.
A minha resposta, num poema em inglês, que não saiu melhor porque... em inglês!... (e mesmo em português não sei melhor fazer.)
 E as palavras de agradecimento recebidas da noiva, que não é portuguesa, ou melhor, não sei se passou a ser, porque meu sobrinho poderá ter duas nacionalidades, não é só português.Um dia aprofundarei esta ideia das nacionalidades, hoje não há tempo para isso.
No convite, havia um poema. Que aqui transcrevo:

Years ago when they were young,
two lovers were brought together as one.
Now and forever,
partners in life
by the ocean they ' ll become
husband and wife

Autor (para mim) desconhecido.

A minha tradução ad hoc:
Há alguns anos quando eles eram jovens
dois amantes foram juntos num só.
Agora e para sempre
companheiros na vida
pelo oceano (da vida) eles irão tornar-se
marido e esposa.

No dia do seu casamento, gostaria de lhes oferecer uma poesia feita por mim. Mas a Crystal, fala "pouco pouco" português e, suponho, não sabe ler português. Como tal, aventurei-me a fazer um poemazito em inglês. Já tenho feito para os meus netos, que vivem na África do Sul, mas, a prática é pouca. Foi com boa vontade.

TO CRYSTAL AND SERGIO
Life is not always easy,
the streets don't have roses
but only black tar,
However, the sun shines everyday
to brighten your days
if you look to the same path
the answer will be there for (both of) you:
blessings are just in front of your eyes.

O que desejei escrever:
As ruas não são atapetadas de rosas
somente de alcatrão negro,
No entanto, o sol brilha todos os dias
para fazer resplandecer os vossos dias
Se vocês olharem na mesma direcção
a resposta estará lá para vós:
bençãos estarão em frente dos vossos olhos

poem by Celeste Cortez (Sergio's aunt)
Lots of love, Celeste and Tó Cortez

E, como enviei o pequeno poema para a noiva, por email, hoje ao regressar de um dia pleno de amizade, fui fazer o check in dos emails.
Então li no email: em bom português: Tia Celeste. As outras frases em inglês, diziam estar muito feliz com o poema. Por dizermos no email que a recebiamos de braços abertos na nossa família. E com o nosso convite para virem a Portugal para (ela) nos conhecer, para ver as belezas deste nosso belo país.
Que simpática é a Crystal Cote (de) Campos. Como fiquei feliz por ela usar o sobrenome Campos, sobrenome que meu saudoso pai nos legou, como último sobrenome. É o sobrenome do nosso sobrinho Sérgio.
Já me alonguei, como é meu costume. Por agora, fico por aqui. Abraço a todo o mundo.
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NATAL É ASSIM

O Natal é todos os dias
Se o homem assim quiser
Se seu coração amar
Se sua mente disser

Natal não são presentes
Que custam muito dinheiro
Natal é dar amor a quem precisa
Com o calor do nosso desejo

Natal é bondade,compreensão,
É carinho, amor, perdão
É reconhecer que o pobre
Também é nosso irmão

Natal é darmos as mãos
Uns aos outros irmãmente
É amarmos os infelizes
E sentirmo-nos contentes

Celeste Cortez 07-12-2010
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Minha homenagem à família da minha prima:
Vera de Campos Figueiredo, falecida em 2008

SE EU FOSSE A MÃO DE DEUS


Como eu gostaria,
de estar perto de vós
para vos abraçar


Como eu gostaria
que o meu abraço
fosse um lenitivo
para a dor
como se fosse
a mão bendita
de Deus, Nosso Senhor...


Poisando de mansinho
no vosso coração dorido
e tirasse todo o sofrimento
toda a dor
deixasse só a saudade,
a eterna saudade
que só tem
quem tanto amor recebeu
de alguém que partiu...
que partiu... para o Além
E está no Céu.


PARA A VERA - Mensagem de uma aluna:


À Vera, com carinho,
Como esquecer aquela mocinha "a la francesa" que ensinava português e se casou com o professor de matemática.
Tão nova ainda, mas pegava pela mão e nos conduzia pelos caminhos da disciplina, da educação, do respeito, dos bons modos, do falar corretamente.
Era nosso ícone, nosso espelho, amada por todos. Ficava rubra com os gracejos dos meninos mas foi de pronto socorrida quando seu carro ficou na inundação do colégio.
Como esquecer sua fala mansa, delicada, mas intimidadora, posicionada e incisiva, seus gestos delicados ao expressar o português e o francês.
Como esquecer sua beleza, sua generosidade, sua alma tranquila e objectiva.
Como esquecer tudo que nos ensinou além da matéria, agora nos ensinando que além da matéria física fica sua alma para sempre em nossos corações, em nossas atitudes, em nossas acções pela vida.


Mereceu tudo isto Vera, tenho a certeza. A mensagem de sua aluna é o seu retrato Vera. Bem haja por me ter recebido em sua casa quando estive no Brasil em 2005. Mal nos conheciamos, você só tinha estado em minha casa a almoçar e pouco mais, por falta de tempo, uns anitos antes numa visita a Portugal.
Obrigada por ter sido minha prima,
Obrigada por ter sido minha amiga.
Contei consigo e continuarei a contar, sempre. SEMPRE
Beijo da Celeste
 -------------------------------------------------------------------------------

Decidiram as rádios, e muito bem, que a exemplo do que se
fez no Brasil, se fizesse em Portugal um dia dedicado ao sorriso.
Esse dia é hoje, dia 4 de Fevereiro de 2011.
Quero contribuir para um Portugal mais sorridente
Que todos encontrem - como eu encontrei - o sorriso dentro de si. É só procurar e querer. O sorriso enriquece quem o recebe e não empobrece quem o dá. O sorriso é o vestuário que melhor nos
fica. E não custa nada.

O SORRISO QUE PERDI  
O sorriso que perdi
Aquele sorriso de outrora
Sorriso de criança feliz
De jovem cheia de esperança
Adulta lutando por um mundo melhor

Sorriso de filha abençoada
De mãe adorada
De esposa amada
De avó idolatrada

Se alguém o tivesse achado
E lhe servisse o meu sorriso?
- Sentir-me-ia feliz –
Mas será que foi encontrado?
E será bem aproveitado
O sorriso que perdi?

Olho à minha volta
À procura do sorriso que perdi

- Onde está?
Onde está o sorriso que perdi?

Ah! Vem ali, vem ali
Naquela mãe que se aproxima
Com uma criança no regaço
E outra pendurada no seu braço

- Não, não é aquele o sorriso que perdi.

- Onde está o sorriso que perdi?

À porta de uma pobre casa
Com um olhar quase divino
Com um sorriso doce nos lábios
Uma mãe dá o peito ao pequenino

Será este o sorriso que perdi?

Mas quando olhámos de frente
A esperança desvaneceu-se de repente.

- Onde está o sorriso que perdi?

Ah! Está ali, está ali,
Naquela mãe que sorri
Mesmo quando o mundo desaba para si

- Não, não era aquele o sorriso que perdi

Eis alguém que passa e me pergunta
Onde é a rua da Felicidade numero tal?
E eu que até sabia
Com o seu sorriso me distraía
Achando-o parecido ao que perdi…
….quase igual.

-Onde está o sorriso que perdi?

Ah! Já sei, está além, além

No solar dos meus antepassados
Procurei em vão o sorriso que perdi
Pedras toscas, silvas nos valados
Foi a resposta que recebi
Triste retrocedi
Sem ter encontrado o sorriso que perdi

Desesperei de o encontrar
Por mais que tenha andado
O sorriso, por mim, não foi encontrado

- Onde está o sorriso que perdi?

Será que como espiral de fumo
O sorriso se tinha desvanecido?

Olho o espelho de manhã
Que não reflete um sorriso
E parece dizer-me ao ouvido:
PROCURA-O DENTRO DE TI,
Procura-o dentro de ti.

Será que está aqui?
Aqui… aqui… à minha frente?

E olhando p’ra dentro de mim
Sorri… sorri contente
Era aquele o sorriso que perdi

Estava dentro de mim…
Dentro de mim encontrei,
encontrei o sorriso que perdi

Sorri. Sorri. Autora: Celeste CortezVAMOS TODOS SORRIR

Declamei no almoço de encerramento
Da UTI - Ano lectivo 2004/2005 - Sintra, 31-05-2005.
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FERNANDO TAVARES RODRIGUES - falecido antes de completar 52 anos de idade, a 1-4-2006. Muito tinha ainda para dar à literatura portuguesa. Era sobrinho de Urbano Tavares Rodrigues. Ex-professor universitário, escritor, poeta (poemas musicados cantados por Kátia Guerreiro), membro do P.E.N. Clube e académico da ALA - Academia de Letras e Artes

POEMA : CARTA DE AMOR

Para te dizer tão-só que te queria
Como se o tempo fosse um sentimento
bastava o teu sorriso de um outro dia
nesse instante em que fomos um momento.
Dizer amor como se fosse proibido
entre os meus braços enlaçar-te mais
como um livro devorado e nunca lido.

Será pecado, amor, amar-te demais?
Esperar como se fosse (des) esperar-te,
essa certeza de te ter antes de ter.
Ensaiar sozinho a nossa arte de fazer amor antes de ser.
Adivinhar nos olhos que não vejo
a sede dessa boca que não canta
e deitar-me ao teu lado
como o Tejo aos pés dessa Lisboa que ele encanta.

Sentir falta de ti por tu não estares
talvez por não saber se tu existes
(percorrendo em silêncio esses atares
em sacrifícios pagãos de olhos tristes).
Ausência, sim. Amor visto por dentro,
certezas ao contrário, por estar só.
Pesadelo no meu sonho noite adentro
quando, ao meu lado, dorme o que não sou.
E, afinal, depois o que ficou
das noites perdidas à procura de um resto de virtude
que passou por nós em co(r)pos de loucura?
Apenas mais um corpo que marcou a esperança
disfarçada de aventura...
(Da estupidez dos dias já estou farto,
das noites repetidas já cansado.
Mas, afinal, meu Deus, quando é que parto para começar,
enfim, este meu fado?)
No fim deste caminho de pecados feito de
desencontros e de encantos,
de palavras e de corpos já usados
onde ficamos sós, sempre, entre tantos...
Que fique como um dedo a nossa marca
e do que foi um beijo o nosso cheiro
Tesouro que não somos.
Fique a arca que guarde o que vivemos por inteiro.
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EM HOMENAGEM A JOSÉ CRAVEIRINHA, no 8º.ano da sua morte
José João Craveirinha (conhecido por José Craveirinha)
 (Lourenço Marques, 28-05-1922 – Maputo, 06-02-2003.

José Craveirinha é considerado o poeta maior de Moçambique
 Em 1991, tornou-se o primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa.
 Como jornalista, colaborou nos periódicos moçambicanos O Brado Africano, Notícias, Tribuna (do meu falecido amigo João Salva-Rey,página de fabecebook), Notícias da Tarde, Voz de Moçambique, Notícias da Beira, Diário de Moçambique e Voz Africana. Utilizou os seguintes pseudónimos: Mário Vieira, J.C., J. Cravo, José Cravo, Jesuíno Cravo e Abílio Cossa.
 Foi presidente da Associação Africana, na década de 1950.
 Esteve preso entre 1965 e 1969 por fazer parte de uma célula da 4.ª Região Político-Militar da Frelimo.

Primeiro Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação dos
Escritores Moçambicanos, entre 1982 e 1987.

Seguem-se alguns dos seus poemas, que foram lidos e interpretados, com o coração e a mente, nas minhas aulas da ACTIS – UTI (UNIVERSIDADE SENIOR de Sintra), no 1º. Trimestre de aulas 2010/2011.
"AFORISMO"

Havia uma formiga
compartilhando comigo o isolamento
e comendo juntos.
Estávamos iguais
com duas diferenças:
Não era interrogada
e por descuido podiam pisá-la.
Mas aos dois intencionalmente
podiam pôr-nos de rastos
mas não podiam
ajoelhar-nos.

"EU SOU CARVÃO"

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão;
tenho que
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão.
Tenho que arder
queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!

"QUERO SER TAMBOR" de José Craveirinha
do 1º volume da sua "Obra Poética":

Tambor está velho de gritar
ó velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.
E nem a flor nascida no mato do desespero.
Nem rio correndo para o mar do desespero.
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero.
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.
Nem nada!
Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra.
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra.
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.
Eu!
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala.
Só tambor velho de sangrar no batuque do meu povo.
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.
Ó velho Deus dos homens
eu quero ser tambor.
E nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando a canção da força e da vida
só tambor noite e dia
dia e noite tambor
até à consumação da grande festa do batuque!
Oh, velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor.

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